A ameixoeira em flor
há pensamentos sinuosos como ervas daninhas.
nesses dias, limpo o jardim entorpecido
dos amores-de-hortelão
que perduram por entre as hortênsias.
com os caminhos limpos, também eu silencio
e escuto por fim o canto dos chapins
– esse eterno chamado da Mãe Terra.
todo o plano é apenas plano.
quanta beleza se encontra na orquídea imprevista
que cresceu na sombra do caminho.
não tardará a primavera — o inverno resistente
brota flores surpreendentes dos ramos da ameixoeira.
cada flor é a promessa da visita de abelhas
e de uma mão cheia de frutos futuros,
redondos, doces, maduros.
quantos poemas abrigados
no colo das mães
para serem desfolhados mais tarde, sob o sono suave dos filhos.
são colhidos por mãos sujas de tojo e de húmus,
mãos estendidas à terra num gesto de entrega,
de préstimo e de extensa modéstia.
tão logo os pensamentos me sufoquem
como ervas daninhas
eu vou cuidar do jardim.
a ameixoeira em flor, apesar dos ventos.
a felicidade irrompendo, discreta,
de um lugar interno, seguro e secreto.