viver é a tarefa mais difícil da vida –
ou talvez me esforce demais
no serviço de alinhar as estrelas no céu
pacificar as águas dos sete mares
mudar a folhagem das florestas no final do verão
e manter o fogo no altar de Héstia.
queria ser assim livre
e fluída
como a suave e desprendida andorinha
nuns dias
flutuando nos ares se o vento sopra a favor
noutros dias
em atenta vigília nos beirais.
o cansaço desgasta todos os fios que me prendem ao céu
e à terra. por vezes assisto-me a trazer à superfície
essa voz cavernosa e visceral que não é minha
como se, no abismo, o medo soubesse apenas dançar
com o desespero, valsa triste essa
de assistir.
viver é, sim, tarefa difícil
naqueles dias em que sou a única a não saber
em que gaveta arrumei a minha essência.
e eu, que tenho sempre um plano para tudo,
perco os planos e o propósito da existência –
da minha própria existência.